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Wool trouxe visibilidade e democratização da arte

  • Da redação
  • 16 de fev.
  • 5 min de leitura

Uma vez por ano Covilhã torna-se a capital mundial de arte urbana. Desde 2011 o Wool – Covilhã Arte Urbana leva cores ao casario histórico, além de instigar momentos de debates, transformação social, cultural, económica e turística para um território do interior.  O festival adotou um formato e forma de trabalho singular, usando paredes localizadas pelo centro histórico para intervenções de artistas urbanos de diferentes países. Durante as realizações do Wool na cidade foram feitas 91 intervenções artísticas, por 66 artistas portugueses e 31 estrangeiros.


O Wool é bem mais do que um festival de arte urbana. Para além das pinturas nas paredes das casas no centro histórico, os objectivo são despertar o interesse das pessoas para a cultura e arte contemporânea, redescobrir a identidade da cidade, democratizar a arte através das intervenções artísticas e envolver a comunidade em todas as acções. O festival também solidificou um roteiro turístico e artísticos pelas obras, que atraem milhares de pessoas de fora da cidade durante todos os meses do ano.


Maior edição de sempre

Em junho do ano passado ocorreu na Covilhã certamente a maior edição de sempre do festival. O evento manteve seus eixos fundamentais programáticos, aumentou o número de artistas em actuação – Millo (Itália), SpY (Espanha), Isaac Cordal (Espanha), Mots (Portugal), Mura (Brasil), Daniela Guerreiro (Portugal) – que contribuíram para o já consagrado Roteiro Wool que faz hoje, inegavelmente, parte da paisagem e do imaginário da Covilhã.


Umas das entradas no centro histórico da Covilhã, ganhou uma renovada imagem com o mural de grande dimensão do artista Millo, que recorrendo a elementos que remetem para o legado da indústria têxtil, nos fala da realidade actual e da necessidade de tecer a paz. Já a artista Daniela Guerreiro deixou, pelo agora ‘renascido’ Pátio dos Escuteiros, não um, mas dois murais que se complementam e nos quais ela registou a toma do chá, uma tradição local secular, introduzida pelos ingleses (empresários dos lanifícios) durante os séculos XVIII e XIX, o que resultaria na alcunha de “chazeiros” ou “chazistas” atribuída às gentes da Covilhã.


A artista brasileira Mura, cujo trabalho se conecta com a botânica, deixou-nos um registo macro da “Genciana-amarela”, uma flor em vias de extinção que habita o maciço central da Serra da Estrela. Já a dupla Mots deu nova cara a uma das tabernas resistentes da Covilhã, em tempos reconhecida como a “Taberna do Papagaio”, trabalhando sobre esta memória de um papagaio que falava com os clientes.


Ainda pelo centro histórico da cidade, o artista espanhol Isaac Cordal colocou em lugares inusitados, que só o olhar mais atento conseguirá descobrir, mais de 25  pequenas esculturas do seu projecto pessoal “Cement Eclipses”. Fazendo uma conexão específica com o nosso território, o artista realizou ainda um conjunto de intervenções que se relacionam com a vivência das Minas da Panasqueira.


Fora do centro histórico, no Boidobra, a instalação em grande escala do reconhecido artista espanhol SpY, intitulada “Czech Hedgehog”. Por entre um verde quase imaculado, que resiste às “plantações de painéis solares que assolam as áreas agrícolas da Cova da Beira”, a instalação minimalista, inspirada numa estrutura anti-tanque da Segunda Guerra Mundial caracterizada pelo seu desenho cruciforme, re-significa este poderoso objecto histórico neste contexto específico, criando um diálogo dinâmico com o ambiente natural e os seus observadores.


Música, formação e acessibilidade

Mas para além das artes nas paredes e instalações, o festival proporcionou música, acções de formação e capacitação, tecnologia, circo contemporâneo e novas actividades. O Wool continuou a investir na acessibilidade no âmbito do projecto WOOL + | Arte Urbana mais acessível (que decorreu entre 2023 e 2024) e que capacitou o Roteiro Wool de um conjunto de recursos para pessoas com deficiência e outras limitações. E foi lançado um novo eixo de programação dedicada exclusivamente ao pensamento.


As Wool Talks, um dos destaques da edição 2024, assumiram-se como uma conferência internacional e surgiram como resposta ao desejo de trazer até ao contexto singular do Wool e da Covilhã, um espaço de pensamento, debate e partilha sobre este sector, sobre esta área artística e outras dimensões com as quais dialoga. O tema que conduziu esta primeira edição das Wool Talks, foi a relação entre “Arte Urbana e territórios de baixa densidade”, objectivando assim a reflexão e produção de conhecimento sobre estes palcos singulares e inusitados de produção cultural e artística.


Às Wool Talks juntou-se ainda a habitual Conversa com Artistas, momento em que os talentos convidados partilharam os seus percursos e histórias particulares e peculiares. Na ‘edição expandida’ de 2024, o festival teve ainda com uma conversa com Martha Cooper, a icónica fotojornalista norte-americana, que continua a registar uma cultura que expandiu e mudou drasticamente. Perante uma “Sala dos Continentes” esgotada, partilhou algumas das suas memórias ao fotografar o Graffiti e Arte Urbana desde a década de 1970 em Nova Iorque (EUA) e explanou a importância dos arquivos fotográficos para perpetuar e valorizar estas formas de expressão artística. Uma conversa que resultaria num artigo publicado numa revista da especialidade.


Na edição do ano passado verificou-se também uma expansão do espaço musical, com duas residências artísticas, que encabeçadas por artistas de renome na música independente e emergente em Portugal: Ana Lua Caiano juntou-se às Adufeiras da Casa do Povo do Paul e Silly a Fred, e em duplas foram desafiados a trabalhar neste e sobre este território (também sonoro) durante os dez dias de festival, ambicionando reforçar a sua identidade sonora e imaterial. Destaque para três miniconcertos com curadoria da CISMA – Jesuíno, Robin Tolle e Saturation Divers – que se realizaram junto de três dos murais em execução e que trouxeram até inesperados pontos do centro histórico da Covilhã várias dezenas de espectadores.


Também a abertura da 11.ª edição foi mais do que especial. No Pátio dos Escuteiros, dezenas de pessoas assistiram ao espectáculo de circo contemporâneo “Chá das Cinco” da premiada companhia Coração nas Mãos. Outra inovação foi a Rua Wool, bem no meio do centro histórico, onde as pessoas, os artistas e as artes confluíam a cada programação, reunindo um sem fim de actividades como instalações artísticas, workshops, concertos, mural comunitário, jogos tradicionais, onde também houve espaço para comes e bebes.


A Rua Wool foi o lugar onde novos, velhos, residentes, visitantes, com e sem deficiência, de todas as cores e estaturas, nacionais ou internacionais, se encontraram, participaram e aprenderam lado-a-lado. Foi o lugar onde pode-se vivenciar simultaneamente o passado e o presente, a tradição e a modernidade, sonoridades de outros tempos e estreias absolutas.

 

Números do Wool


14 Anos: 2011 - 2024

11 Edições na Covilhã

20 Formatos em território nacional e internacional

261 Intervenções artísticas murais e instalações

91 Intervenções artísticas na Covilhã

66 Artistas portugueses

31 Artistas estrangeiros
























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