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Portugueses valorizam o SNS, mas esperam melhorias

  • Da redação
  • 8 de fev.
  • 4 min de leitura

Os sistemas públicos de saúde pelo mundo são os melhores classificados quando o quesito a ser avaliado é a facilidade do acesso à saúde dos utentes. Mesmo assim, esse tipo de sistema costuma ser atacado principalmente diante do forte lobby das grandes seguradoras de saúde, que lutam com unhas e dentes a favor da privatização da saúde pelo mundo. O Sistema Nacional de Saúde (SNS), convive entre o céu e inferno quando avaliado: foi exaltado durante a pandemia mas continua a receber queixas em alguns quesitos. Uma pesquisa divulgada em janeiro pelo Deco Proteste mostrou, entretanto, que os portugueses estão, de maneira geral, satisfeitos com o SNS.


A saúde pública é um dos pilares de uma sociedade democrática. Nem todos podem pagar por uma consulta ou ainda manter um plano de saúde privado, cada vez mais caro. Então, o acesso equitativo a cuidados da saúde, independente da condição financeira do cidadão, torna-se imperativo.  Em uma pesquisa feita em 2019, o Deco Proteste já havia detetado bons números do SNS, a partir da avaliação de 40 hospitais, urgências, internamentos e consultas externas.


Na pesquisa de agora, foi analisada, entre junho e julho de 2024, uma amostra da população entre 24 e 84 anos. As 1.591 respostas válidas foram ponderadas em função do género, idade, nível educacional e região. O estudo visou os centros de saúde de Portugal. Para comparar um maior número de Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES), modelo de organização extinto e substituído pelas Unidades Locais de Saúde (ULS), foi também enviado um questionário online aos associados da Deco Proteste, resultando em um total de 4.619 respostas.


Nas pesquisas efetuadas pela Deco Proteste ao longo dos anos, é possível aferir que os portugueses valorizam muito o SNS, atribuindo 8 pontos, de 10 possíveis, no quesito satisfação. Os cuidados da enfermagem pontuam um pouco abaixo, com 7,4, mas a satisfação também está em crescimento. Com uma satisfação mediana, de 6 pontos, ficam os serviços administrativos.


Aspeto não tão positivo é a espera pela consulta com o médico de família. Elas demoraram, na maioria (52%) até um mês para serem efetivadas. Três em cada 10 destas ultrapassam a marca de dois meses. Há cinco anos, no último estudo da Deco Proteste aos centros de saúde, apenas 31% das consultas excediam o prazo de um mês. O cenário, portanto, agravou-se. E muitos utentes acabam recorrendo ao serviço privado: 18% dos que foram ao médico de família dirigiram-se também ao sistema privado. E 25% circulam entre público e privado no caso de exames médicos, enquanto 22% fizeram para consultas de especialidades.


Mas há uma clara preferência ao SNS. A pesquisa mostrou que 67% dos utentes recorreram ao serviço de urgência, no hospital ou centro de saúde, enquanto 70% procuraram consulta com o médico de família, 77% solicitaram receituário ou outros documentos e 79% pediram uma consulta de planeamento familiar. Mesmo para as consultas de especialidade, mais difícil de conseguir, 32% recorreram apenas ao público.

Entretanto, 16% dos inquiridos disseram não ter médico de família. Dois em três desses dizem não existir vaga para nenhum dos profissionais disponíveis no centro. A maioria dos que têm médico de família não o escolheram (83%), na maioria porque o centro de saúde não permite.


O dia da consulta costuma ser tranquilo. O mais comum foram os assentos da sala de espera não serem ocupados por mais de 30 minutos (66% dos casos). O tempo de espera médio não foi muito diferente: 36 minutos.

 

Os melhores sistemas no mundo

Os países europeus e a Austrália lideram a recente classificação dos melhores sistemas de saúde do mundo da Commonwealth Foundation. A Noruega, os Países Baixos e a Austrália ocupam o topo da lista dos melhores sistemas de saúde do mundo, de acordo com um estudo recente elaborado pela fundação norte-americana.

O Serviço Nacional de Saúde da Grã-Bretanha liderava a classificação no relatório anterior, elaborado em 2017, mas, desde então, caiu para o quarto lugar. O sistema de saúde dos Estados Unidos ficou em último lugar, uma posição que ocupa desde a primeira classificação em 2004.


O estudo avaliou o desempenho dos sistemas de saúde de onze países: Austrália, Canadá, França, Alemanha, Países Baixos, Nova Zelândia, Noruega, Suécia, Suíça, Reino Unido e Estados Unidos. Os países foram classificados em função de cinco categorias: acesso à saúde, atendimento, eficiência administrativa, equidade e resultados de saúde.


Em geral, os países com melhor desempenho são os que reduziram o custo dos cuidados de saúde para os pacientes. O documento destaca a limitação dos custos diretos na Noruega e na Suíça, e a decisão da Alemanha em 2013 de suprimir as taxas para as consultas médicas.


Os países que procuram tornar a saúde mais acessível, nomeadamente, através da gratuidade, como o Reino Unido, ou por meio da simplificação ou limitação do custo do seguro saúde como a Suíça, têm pontuações mais altas na categoria eficiência administrativa. A Noruega e a Holanda ficaram bem classificadas e merecem elogios pela rapidez de acesso aos cuidados de saúde.


O estudo dá alguns exemplos concretos de políticas de saúde eficazes: a Lei dos Direitos do Paciente, na Noruega, que estabelece o direito de receber atendimento num prazo específico, e a exigência nos Países Baixos de que os médicos de clínica geral forneçam, todos os anos, pelo menos 50 horas de atendimento após o expediente para poderem manter as licenças médicas.

 

Estados Unidos, o pior

Os sistemas de saúde dos Estados Unidos, do Reino Unido e da Suécia ficaram bem classificados na categoria processo de atendimento, e obtiveram uma boa pontuação em medidas preventivas, como mamografias e vacinas contra a gripe.


No entanto, o relatório coloca os EUA em último lugar em todas as outras categorias. Os resultados gerais do sistema de saúde americano ficaram de tal modo atrás dos outros dez países analisados que os autores do estudo foram forçados a mudar a forma de cálculo do desempenho médio do país.


De acordo com a metodologia usada no estudo, os EUA representavam "um valor discrepante substancial que distorcia negativamente o desempenho médio". Ou seja, o mau desempenho do sistema de saúde dos Estados Unidos fazia com que os sistemas dos outros países parecessem injustamente menos bons.


Os autores do estudo destacam os maus resultados ao nível da saúde associados ao sistema de seguros nos Estados Unidos. Embora os EUA gastem mais com saúde em percentagem do PIB, apresentam os níveis mais altos de mortalidade materna e mortes evitáveis entre os onze países analisados. De acordo com o estudo, os americanos estão mais doentes e a esperança de vida diminuiu.

 



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