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Na primavera, ovelhas e seus pastores sobem a Serra

  • Da redação
  • 26 de mar.
  • 2 min de leitura

"(...)Apesar da sua riqueza em paisagem e fastos gloriosos, a Beira Alta, na sua mais antiga e genuína essência, é serra e fraga; é nevão originário, que se funde em manadeiros de torrentes; é anta e castro; e pastores transumantes que, desde o fundo das idades guardam e encaminham ovelhas(...)"


Jaime Cortesão, Portugal é A Terra e o Homem.


Duas vezes por ano pastores e suas ovelhas fazem um caminho para a subsistência. Na primavera, eles sobem a trilha à procura de pastos mais verdejantes. No inverno, descem os pontos mais altos para procurar os pastos nas na planície. O fenómeno histórico de deslocamento é conhecido por transumância e, atualmente, transformou-se num espetáculo identitário que atrai os olhares de visitante e de moradoras das vilas e aldeias por onde passam os animais e seus pastores.


A transumância caracteriza-se como uma deslocação periódica e sazonal das ovelhas com a finalidade de procurar e assegurar-lhes os pastos verdes para a subsistência. Estes movimentos de pastores e ovelhas contribuíram para a criação e desenvolvimento de uma importante e extensa rede de vias que em Portugal eram conhecidas por canadas. É uma prática ancestral que ainda se mantém viva em algumas regiões do país, contribuindo para a preservação das tradições pastoris e para a conservação dos ecossistemas naturais.


A Serra da Estrela constitui um dos espaços privilegiados para a prática da transumância devido ao desenvolvimento natural das suas nascentes de água e das boas terras, sendo frequente no verão ver rebanhos apascentarem nos frescos relvados. O geógrafo e historiador português Orlando Ribeiro (1911-1997), refere a Estrela como uma montanha pastoril de tipo mediterrâneo, que conservava no século XX, o último e mais puro reduto da transumância nacional.


Nos séculos XIX e XX, as ovelhas da terra chã (vales), subiam a partir do S. João para a Serra da Estrela e Montemuro em grandes rebanhos onde permaneciam até meados de agosto. No isolamento da serra, os pastores guardam os seus alimentos nas “Arcas do Pão”, buracos nas rochas graníticas e pernoitavam na Choupana ou debaixo de uma “Lapa”, bloco grande de granito, sempre junto ao “bardo”, cerco móvel construído com uma rede e estacas para guardar as ovelhas.


Já quando chega o inverno esse deslocamento tornou-se mais raro. A transumância invernal, transumância invertida ou descendente, que ocorre quando rebanhos de montanha fogem do rigor do inverno nos climas de altitude e descem às planícies temperadas já quase não existe mais. Há menos pastores, menos animais e os que existem preferem fazer a transumância apenas na primavera. Mas, apesar dos desafios e das mudanças do mundo moderno, a transumância continua a ser uma atividade importante para a economia e para a preservação da cultura local, representando uma ligação profunda entre o homem rural e a natureza.





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