Há vida além da Meta: um chamado à diversidade informacional
- Tamiris Tinti Volcean
- 24 de jan.
- 3 min de leitura
Logo após o último pronunciamento de Mark Zuckerberg, CEO da Meta, sobre o encerramento do programa de checagem de fatos no Facebook e Instagram, divulgado na primeira semana de janeiro, sentimentos como desespero, desamparo e impotência intensificaram-se entre aqueles que reconhecem a importância do fact-checking no combate à desinformação. Afinal de contas, essa decisão pode impactar desde o cenário político global até a construção do pensamento crítico individual dos usuários dessas plataformas.
Ao substituir o trabalho dos verificadores de fatos pelas chamadas notas de comunidade, metodologia semelhante à implementada pelo X (antigo Twitter), a Meta coloca em xeque a qualidade da informação disseminada em suas redes. A tentativa de equiparar mediação e censura, como sugerido por Zuckerberg em sua fala, revela uma camada semântica perigosa deste discurso. Mediação não é censura, mas um processo indispensável para regular o debate público na era da pós-verdade, evitando que os vieses de confirmação de cada indivíduo possam se sobrepor aos fatos tais como são.
Para além da questão informacional, essa decisão também reflete as alianças políticas e os interesses de mercado da Meta. Diante desse cenário, resta-nos refletir não apenas sobre suas consequências danosas, mas também sobre como estamos cada vez mais reféns dessa marca hegemônica. Mais do que isso, sobre a incapacidade coletiva de imaginar cenários alternativos. É como se a Meta e suas plataformas fossem o único caminho possível para se expressar, se informar e, paradoxalmente, se alienar.
Quando analisada à luz do contexto da corrida eleitoral nos Estados Unidos, a decisão da Meta é ainda mais preocupante e assombrosa, ditando o tom belicoso do governo estadunidense pelos próximos quatro anos. A informação é, sem dúvida, uma arma poderosa de guerra. Tudo está interligado e aqui não há resquício de teorias mirabolantes da conspiração, por isso, é fundamental estar atento e forte, mantendo a vigilância e fazendo resistência ao fluxo avassalador de desinformação promovido pela escala massiva dessas plataformas.
Ainda assim, é importante lembrar que essa decisão é essencialmente institucional e que empresas dependem de seus usuários para sobreviver. Como cidadãos em uma democracia, temos o livre-arbítrio para rejeitar o que não reflete nossos valores. A decisão da Meta é preocupante, mas não representa o fim do mundo como pareceu nos dias que se seguiram à publicação do vídeo de Zuckerberg. Ao acreditarmos nisso, reforçamos a ideia de que o mundo é restrito ao norte global; ao que nele se desenvolve, aos seus interesses e às suas prioridades. Contudo, o mundo é maior e repleto de possibilidades, desde que estejamos dispostos a imaginar, criar e executar. Parece óbvio, mas é sempre importante lembrar.
Embora não possamos competir diretamente com uma empresa do porte da Meta, e não haja da minha parte pretensão de estimular uma ideia tão megalômana quanto esta, há, sim, espaço para resistência. A AletheiaFact.org, por exemplo, é uma plataforma open-source que permite que qualquer cidadão cheque fatos e publique seus resultados, divulgando relatórios completos do processo investigativo. Essa abordagem transparente contribui para evitar a disseminação de fake news e incentiva uma cultura de responsabilidade informacional.
A soberania da informação continuará sendo moldada pelo algoritmo do Facebook e do Instagram, sabemos, mas estar lá é uma escolha pessoal. Ter consciência disso é o primeiro passo para romper com o papel de reféns da Meta e, sobretudo, para fomentar alternativas de consumo de informação, iniciativas essenciais na luta contra a desinformação.
Tamiris Tinti Volcean, Jornalista e co-fundadora da AletheiaFact.org

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