Mentiras continuam a atingir a Saúde
- Da redação
- há 2 dias
- 6 min de leitura
Atualizado: há 18 horas
A pandemia despertou para o fenómeno da desinformação, alavancando a partilha de conteúdos falsos, manipuladores ou enganadores sobre a covid-19 nas redes sociais. Uma “infodemia”, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Em fevereiro de 2025, uma nova onda de publicações voltou a espalhar alegações falsas sobre os efeitos colaterais da vacina da Pfizer, afirmando que a farmacêutica teria divulgado uma lista de reações graves, incluindo insuficiência cardíaca e morte súbita. No entanto, essas informações não têm fundamento. A farmacêutica Pfizer afirmou que nunca publicou tal lista e esclareceu que todas as informações sobre a segurança e eficácia da vacina contra a Covid-19, assim como de qualquer outro medicamento ou vacina, são periodicamente revistas e atualizadas pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA).
No site da EMA pode ser consultado o relatório oficial sobre a vacina, onde são listados os efeitos colaterais conhecidos e mais comuns. Entre eles, destacam-se a dor de cabeça, febre e náusea, que afetam cerca de uma em cada 10 pessoas que tomam a vacina. Estes sintomas são geralmente temporários e não representam risco grave para a saúde. Os sintomas são vistos durante testes clínicos feitos antes da aprovação da vacina.
É importante notar que, embora tenham sido citados na lista que circulou nas redes sociais, efeitos adversos como miocardite (inflamação no músculo do coração) e paralisia facial ocorrem numa pessoa a cada 10.000 vacinados, de acordo com relatório da EMA. Contudo, esses efeitos raros também são associados ao começo das campanhas de vacinação, quando duas doses da vacina eram aplicadas num curto período de tempo, afetando maioritariamente jovens e adolescentes entre 12 e 25 anos.

A disseminação de notícias falsas sobre os efeitos colaterais da vacina da Pfizer não parou por aí. Algumas alegações ainda mencionaram outros problemas graves, como insuficiência hepática e morte súbita, mas é importante esclarecer que nenhum desses efeitos está listado nos relatórios oficiais da EMA.
As autoridades de saúde a nível mundial, incluindo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a própria Agência Europeia de Medicamentos, reiteram, nas suas plataformas oficiais, que a vacina da Pfizer é segura e eficaz. Estes órgãos confirmam que os benefícios da vacinação superam amplamente os riscos, e que a monitorização contínua da vacina é feita em todos os Estados-membros da União Europeia.
Importância do fact-checking
Neste período, a sobrecarga de informações erradas, que foram criadas ou divulgadas de forma não intencional, e informações falsas, criadas deliberadamente com o objetivo de causar danos, desencadearam incertezas e insegurança na população.
O aumento da desinformação e o seu impacto na esfera pública conduziram ao desenvolvimento de novas práticas jornalísticas. Essenciais no combate às informações falsas, os jornalistas tornam-se agentes de saúde pública e surgiram as organizações de fact-checking, que têm o objetivo de verificar os factos.
Controlar as fake news é crucial para promover uma sociedade informada, aumentar a literacia em saúde entre os cidadãos e, consequentemente, fortalecer a confiança nas informações disponibilizadas pelas entidades e profissionais de Saúde.
Relatório da ONU
A disseminação da desinformação e informação falsa foram uma barreira na resposta à pandemia. A conclusão é do relatório “Explorando debates online da Covid-19 e a poluição de informações na América Latina e no Caribe”, que foi produzido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Pnud, e a firma digital Constella Intelligence.
O estudo define a poluição da informação como conteúdo falso, enganoso e manipulado dentro ou fora da internet, que é criado, produzido e disseminado de forma intencional ou não, e que tem o potencial de causar informação falsa. Pelo menos 1,4% do conteúdo online revisado na América Latina e Caribe pode ser classificado como tendo resultado da poluição da informação
Com várias menções ao Brasil, o documento ressalta que o país foi um dos que tiveram um dos maiores aumentos globais de usuários da mídia social entre 2020 e 2021. O total subiu em 10 milhões ou 7,1% pessoas a mais. Tal como no México, na Colômbia, e na Argentina as contas de redes sociais por usuário de internet são consideradas altas. As empresas do tipo de conteúdo reivindicam alcançar 74,1% da população no que afirmam ser uma penetração considerável.
Mas em relação a narrativas sobre poluição lideram temas como tratamentos alternativos com 34%. As alegações de que a pandemia foi planejada foram consumidos por 32% de brasileiros e sobre vacinas por 22%. Narrativas na classe da poluição de informações sobre da vacina mostrou que materiais sobre efeitos colaterais do imunizante atingiram 34% do plico analisado. Quanto à rejeição da vacina chegaram a 18% e que o imunizante usaria microchips a 15%. A análise destaca que 1,4% do conteúdo online revisado na América Latina e Caribe pode ser classificado como tendo resultado da poluição da informação.
Ainda em relação à crise de saúde pública, o apelo feito às instituições do setor é que protejam seu status de confiança se quiserem liderar intervenções de saúde eficazes. Uma conquista sem precedentes foi a conexão de comunidade global em grande escala nos media digital e em plataformas de redes sociais. Isso garantiu segurança, conectividade e que os cidadãos fossem informados.
No entanto, as mesmas tecnologias de informação e comunicação permitiram que conteúdo falso fosse mais produzido com as chamadas fake news. O relatório nota, um grande número de narrativas polarizadoras espalhado, muitas vezes distorcendo o discurso público saudável e impedindo a implementação efetiva de iniciativas de saúde pública.
Narrativas polarizadoras espalhadas estão muitas vezes distorcendo o discurso público saudável e impedindo a implementação efetiva de iniciativas de saúde pública. O relatório menciona fatores como a velocidade de implantação da vacinação, que ao lado das várias incógnitas em relação à Covid-19 contribuem para um ambiente de incerteza.
Nessa situação, a credibilidade e legitimidade de instituições de autoridade são forçadas a competir com uma nova onda de influenciadores online nos detores dos media sociais e alternativa. O contexto de informações errôneas e de problemas de confiança geram ineficiências tangíveis de saúde pública, comprometendo ganhos sociais críticos e prolongando a pandemia.
Técnicas de combate à desinformação
Verificação de fontes
Avaliar a credibilidade da fonte, verificando a reputação do veículo de comunicação, através da consulta de fontes de informação oficiais, como portais de internet de instituições de saúde. Conferir se os conteúdos apresentados são verdadeiros.
Utilidade da informação
Analisar a utilidade da partilha da informação, isto é, se vai ajudar os cidadãos na tomada de decisão ou apenas vai despertar incertezas.
Validade da informação
Verificar se a informação é recente, se está atualizada ou se já existem novas informações sobre o tema.
Sensacionalismo
Investigar e esclarecer a credibilidade da informação com outros profissionais, através da análise de estudos credíveis, mesmo que a informação seja maciçamente veiculada nos meios de comunicação social.
Esclarecer dúvidas
Identificar dúvidas, receios e anseios dos doentes e das suas famílias e cuidadores. Fornecer informações fundamentadas e orientadas de acordo com o perfil e necessidades de cada pessoa.
Fake news da Saúde em Portugal na pandemia
Portugal não é exceção e diariamente circulam informações falsas ou pouco fidedignas nos meios de comunicação social. São exemplo de fake news os seguintes casos, que levaram a desmentidos da Direção-Geral da Saúde (DGS) e que teriam sido facilmente detetáveis através de consulta ao portal de internet oficial.

“DGS pede para fecharem vidros dos carros na A28”.
A 10 de novembro de 2020, a SIC transmitiu uma reportagem sobre um surto de legionella que infetou várias pessoas na região norte de Portugal, junto à autoestrada A28. Em entrevista, uma investigadora do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto sugeriu que se fechassem os vidros ao passar nessa região. Naquele momento, um rodapé atribuiu erradamente a declaração a Graça Freitas, então Diretora-Geral da Saúde no período. Uma captura de ecrã foi amplamente partilhada nas redes sociais. No mesmo dia, a DGS publicou nas sua redes sociais um desmentido sobre esta notícia falsa.

Quem recusar vacina contra a Covid-19 perde “direitos e assistência como utente do SNS”?
No grupo “Vacinas Covid-19: Testemunhos”, criado na rede social Facebook, foi publicada e bastante divulgada uma captura de ecrã que alegava que quem não fosse vacinado contra a Covid-19 iria perder todos os direitos enquanto utente do Serviço Nacional de Saúde. Numa análise mais profunda, é possível verificar que na Norma 002/2021 da DGS, no ponto 20, a alínea b) estabelece que “a vacinação contra a Covid-19 é fortemente recomendada para a proteção da Saúde Pública e para o controlo da pandemia Covid-19” e a alínea c) que a “vacinação contra a COVID-19 é voluntária”.
Outras mentiras nas redes:
Vacina causa autismo
Esse é um boato antigo, que surgiu em 1998, porém, muitos estudos já o desmentiram ao longo desses anos. Em uma pesquisa recente, com mais de 650 mil crianças, comprovou que a vacina não causa autismo. A vacinação é uma das melhores formas de estar protegido contra diferentes vírus e bactérias, além de manter a sociedade segura, impedindo que doenças se espalhem e causem uma epidemia.
Desodorante pode causar câncer de mama
Essa notícia começou a se espalhar a partir da associação de que uma grande parte dos canceres de mama ocorrem próximos a axila, onde é usado o desodorante. Apesar do produto poder causar alergias e infecções nessa região do corpo, estudos já comprovaram que os desodorantes e antitranspirantes não tem nenhuma relação com o aumento das chances de ter câncer de mama.
Fontes: Serviço Nacional de Saúde (SNS), Euronews, ONU e Parlamento Europeu (2019), "Como identificar «notícias falsas". Disponível em https://www.europarl.europa.eu/RegData/etudes/ATAG/2017/599386/EPRS_ATA(2017)599386_PT.pdf


Comentarios